O etarismo é uma forma de discriminação baseada na idade, que afeta principalmente as pessoas mais velhas. Esse fenômeno tem consequências negativas não só para a dignidade e a autoestima dos idosos, mas também para o seu poder de consumo e participação na sociedade.
Um dos principais fatores que dificultam o acesso dos idosos ao consumo é a crescente digitalização dos serviços e produtos. Cada vez mais, as empresas apostam em canais online, serviços de assinatura ou uso de aplicativos em diferentes momentos do processo de compra, desde a pesquisa até a entrega. Essas inovações podem trazer benefícios para os consumidores, como praticidade, rapidez e personalização, mas também se tornam uma barreira real para pessoas que não tenham um convívio constante com tecnologia, como boa parte da população mais idosa.
Segundo dados do IBGE, em 2019, apenas 34,7% das pessoas com 60 anos ou mais usavam a internet no Brasil. Esse percentual é muito inferior ao da média nacional, que era de 79,1%. Além disso, muitos idosos enfrentam dificuldades para usar os dispositivos digitais, como smartphones, tablets e computadores, por falta de familiaridade, de habilidade ou de acessibilidade. Muitas vezes, os idosos dependem da ajuda de familiares ou amigos para realizar compras online ou usar aplicativos de transporte, delivery ou entretenimento.
Essa situação gera uma exclusão digital dos idosos, que ficam à margem das novas tendências de consumo e perdem oportunidades de adquirir produtos e serviços que atendam às suas necessidades e desejos. Além disso, a exclusão digital pode afetar a qualidade de vida dos idosos, que deixam de usufruir dos benefícios que a tecnologia pode proporcionar, como comunicação, informação, educação e lazer.
Outros fatores da sociedade que impactam no consumo dos idosos são a mobilidade, os preconceitos e os produtos que não são pensados para propiciar uma boa experiência para pessoas mais velhas. Muitos idosos têm dificuldade para se locomover nas cidades, seja por problemas de saúde, seja por falta de infraestrutura ou transporte adequado. Isso limita o seu acesso aos estabelecimentos comerciais e aos espaços públicos. Além disso, muitos idosos sofrem com o estigma de serem vistos como incapazes, dependentes ou ultrapassados. Essa imagem negativa afeta a sua autoconfiança e o seu reconhecimento como consumidores potenciais. Por fim, muitos produtos e serviços não são adaptados às especificidades dos idosos, como a visão, a audição, a memória ou a mobilidade. Isso gera frustração, insatisfação e abandono.
Diante desse cenário, é preciso que as empresas e a sociedade em geral reconheçam o valor dos idosos como consumidores e cidadãos. É preciso investir em soluções que facilitem o acesso dos idosos à tecnologia, como cursos, tutoriais ou suporte técnico. É preciso também oferecer produtos e serviços que sejam adequados às suas preferências e necessidades, com design acessível, funcional e atrativo. E é preciso combater o etarismo e promover uma cultura de respeito e valorização da diversidade etária.
Os idosos são um segmento importante do mercado consumidor, que tende a crescer nos próximos anos. Segundo projeções do IBGE, em 2060, o Brasil terá 58,2 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que corresponderá a 25,5% da população total. Além disso, os idosos são agentes ativos da economia e da sociedade, que contribuem com sua experiência, seu conhecimento e sua renda. Portanto, garantir o seu direito ao consumo é uma questão de justiça social e de desenvolvimento sustentável.